Quando se começa a aprender? Na opinião
de muitos pais e até de alguns profissionais do ensino, apenas na
alfabetização. Até lá, para quem pensa assim, os filhos vão à creche
para brincar e passar o tempo. Mas para os pesquisadores envolvidos na
proposta de educação infantil na Base Nacional Comum Curricular (BNC), o
aprendizado dos pequenos começa muito antes. E brincar não é mero
momento de distração.
“A gente está dizendo que bebê aprende.
Não é porque bebê não fala que ele não tem um conjunto muito
interessante de explorações, de brincadeiras, de olhares pro outro, que
são seu jeito de falar”, defende Zilma de Moraes Ramos de Oliveira,
professora da Universidade de São Paulo (USP) e uma das assessoras da
educação infantil no documento.
Para fortalecer essa ideia e levá-la à
prática nas escolinhas Brasil afora, a proposta da BNC para educação
infantil vem recebendo atenção especial. Etapa fundamental e
diferenciada da educação básica, ela não é organizada, por exemplo, em
áreas do conhecimento, como o ensino fundamental e o médio.
“Em primeiro lugar pela própria faixa
etária das crianças. Isso vai demandar uma forma muito diferente dessa
criança se relacionar com o conhecimento, com o mundo. Na educação
infantil, as experiências vividas na instituição são tratadas de forma
mais global”, explica Hilda Micarello, coordenadora da equipe de redação
da Base.
Experiência – Por esse
motivo, a educação infantil no documento está dividida por campos de
experiência, que têm como eixos centrais a ludicidade e as interações –
dois aspectos que já aparecem nas diretrizes curriculares nacionais e
são especificadas na Base. Essa perspectiva se diferencia do que é visto
nas escolas de hoje, diz Hilda.
Segundo ela, “há muitas vezes uma
interpretação equivocada de que a educação infantil é para fazer uma
versão adaptada daquilo que se faz no ensino fundamental”. Ela explica
que “muitas vezes as crianças ficas muitas horas sentadas, realizando
tarefas repetitivas e confunde-se o incentivo à leitura e à escrita com
passar exercícios de cópia, cobrir traçados. E são práticas muito
equivocadas”, diz Hilda.
Um dos norteadores dos campos de
experiência, a ideia de interação é inovadora ao considerar que o ato
pedagógico acontece não só do professor para a criança, mas da criança
para o professor e, também, entre as crianças. “É um foco que coloca um
outro olhar sobre o processo de aprendizagem”, defende Zilma. A
ludicidade também ganha importância no texto sobre educação infantil,
segundo a assessora, porque é de 0 a 5 anos que acontece a maior e mais
importante transformação no jeito da criança agir.
“Quando pequenininha, a criança vai
reconhecendo os objetos pela sua função imediata. Um copo é um copo,
para ter água. Mas em seguida ela pode pegar o mesmo copo vazio e usar
como chapéu. Pode parecer uma bobagem, mas é uma total inversão da
maneira habitual de se tratar o copo”, diz Zilma. “E desse fazer de
conta que é um chapéu, e no fazer de conta de várias outras coisas, vai
aparecendo a capacidade de lidar com imagens. Se a gente não dá bastante
apoio para esse processo, nós não aproveitamos todo o potencial de
desenvolvimento da criança.”
São propostos cinco campos de
experiência na Base. Um deles trabalha o eu, tu e nós, onde devem ser
colocadas as noções de identidade. Outro trata da escuta e da fala, com
estímulo das linguagens oral e escrita, mas também do diálogo entre os
pequenos. Um terceiro aborda as cores, os sons e as imagens, incluindo
linguagens variadas como a musical, a visual, a cenográfica etc.
Há, ainda, o campo dos gestos e
movimentos, que se refere às habilidades do corpo, e por último há o que
toca nas noções de quantidade, medida, tempo e espaço. “Dessa forma, o
professor tem cinco focos que ele pode selecionar pro seu trabalho. Em
vez de trabalhar com matemática, pode escolher a área de ‘eu e outro’,
porque as crianças precisam discutir sobre suas amizades, suas
preferências. E essa discussão não tem área pra ele na educação básica”,
explica Zilma.
Brincar – Grande
preocupação dos pais, o aprender a ler e escrever também passa pelo
brincar e o interagir na proposta de educação infantil. Mas, diferente
do que se vê hoje, preocupa-se em não atropelar o momento por que passa o
aluno dessa fase. “A escrita não pode ocupar uma relevância e um
protagonismo muito diferente das demais linguagens”, lembra Mônica
Correia Baptista, professora da Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) e consultora da Base sobre leitura e
escrita na educação infantil.
O trabalho segue a concepção de que a
criança tem o direito de se apropriar de todas as linguagens, não apenas
a escrita, mas também a oral e a corporal. Sempre partindo das
brincadeiras e das interações, essenciais para a comunicação na primeira
infância.
“A criança brinca que escreve, brinca
que lê, lê imagens, levanta hipóteses. Porque é um sujeito ativo,
inteligente, competente, a gente trabalha na ideia de que é um direito
dela passar por um processo de aprendizagem ativo com um mediador
capaz”, observa a professora.
Fonte: MEC
https://undime.org.br/noticia/17-03-2016-09-57-proposta-para-educacao-infantil-na-base-defende-brincadeiras-para-aprendizagem
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