Hoje um dos cidadãos mais ilustres de nossa cidade estaria completando 95 anos: o patrono da ecologia catarinense, Pe. Raulino Reitz.
Raulino Reitz nasceu em Antônio Carlos, SC, no dia 19 de setembro de
1919, filho de Nicolau Adão Reitz e de Ana Wilvert Reitz. Afirma-se, inclusive,
que seu pai, um lavrador que já naquela época se preocupava com a conservação
do solo fazendo rotação com as plantas anuais e o ingazeiro (Ingá sessilis),
influenciou muito em sua dedicação à natureza e em sua luta para preservá-la.
O SACERDOTE
Estimulado pelos dois irmãos, Afonso e
João, que também haviam passado pelo Seminário, ingressou no Seminário de
Azambuja, Brusque, em 1932, ali permanecendo até 1936, cursando o Ginásio e o
Clássico. A Filosofia e Teologia cursou no Seminário Central de São Leopoldo –
RS, de 1937 a 1943. Ali conheceu o Pe. Balduíno Rambo SJ, notável cientista
botânico que lhe deu as primeiras instruções e o incentivo para os estudos
botânicos. Em 1938, no segundo ano de filosofia, começou a coletar plantas que
depois passariam a integrar o acervo do Herbário Barbosa Rodrigues. Em 1943,
pelas mãos do então arcebispo de Florianópolis, Dom Joaquim Domingues de
Oliveira, é ordenado presbítero na Catedral.
O
PROFESSOR E AMANTE DA ASTRONOMIA
Foto tirada pelo Pe. Raulino mostra o cometa entre as torres do Santuário de Azambuja, em Brusque. |
Como sacerdote trabalhou em vários municípios catarinenses (Turvo:
10/09/1943 a 25/01/1944; Sombrio: 25/01/1944 a 12/01/1946; Itajaí: 12/01/1946 a
25/11/1946; Orleães: 25/10/1946 a 11/01/1947), onde sempre aproveitava as horas
de folga para realizar suas coletas de plantas. Sua atividade como botânico se
intensifica quando é enviado para lecionar no Seminário Menor de Azambuja, no
município de Brusque (1947 a 1971), onde foi professor de latim, inglês,
alemão, espanhol, ciências naturais, história natural, biologia, religião,
anatomia e fisiologia humana, física, química, agronomia, cosmografia, história
das Américas, geografia geral e do Brasil e história geral. Como professor de
cosmografia e amante da astronomia foi observador assíduo dos céus,
fotografando, por exemplo, em 1º de novembro de 1965, o cometa Ikeya-Seki (foto ao lado).
Em seu diário
ele também descreve a primeira vez em que viu o Cometa Halley, no dia 17 de
março de 1986: “Após ter levantado nas
últimas madrugadas 5 vezes não consegui observar o Cometa Halley devido às
nuvens que cobriam a região da abobada celeste entre o Escorpião e Capricórnio
onde perambulava o famoso cometa. Esta madrugada levantei às 4 horas ainda com
nuvens que aos poucos foram desaparecendo quando observei o mixeruco (sic)
errante do espaço. Chamei a Erna - que também o viu. Mas era tão pequeno e
apagado que foi necessário usar o binóculo para observá-lo melhor. Apresentava
a luminosidade de uma estrela de 4ª grandeza e o tamanho comparável a 4 metros
(sic). A cauda abria-se elegantemente, mais do que na sua apoteótica aparição
de 1910 conforme mostram as fotografias. Assim vi pela primeira vez o Cometa
Halley, muito pequeno e quase apagado, entre as constelações do Capricórinio e
do Sagitário”.
O CIENTISTA BOTÂNICO
Integrado na
equipe de malariologia (1949 a 1951) colaborou ativamente nas pesquisas
fitossanitárias realizadas em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul pelo
Serviço Nacional de Malária, sendo cognominado o “padre dos gravatás” por ter
estudado esses criadouros de anofelinos, transmissores de malária.
Sua grande
ambição toma forma a partir de 1951 quando idealiza o levantamento botânico do
Estado de Santa Catarina. Traça seu plano de ação e durante catorze anos
executa coletas por todo Estado de Santa Catarina, juntamente com Roberto
Miguel Klein, seu amigo inseparável. Em 1965, lança os primeiros fascículos da Flora Ilustrada Catarinense e durante
os próximos 25 anos trabalha na publicação de 149 fascículos desta obra.
“Em 22 de junho de 1942, em seu quarto no Seminário
Central de São Leopoldo, com a assistência dele mesmo, fundou o ‘Herbário
Barbosa Rodrigues’, nome dado em homenagem ao botânico brasileiro Barbosa
Rodrigues, no centenário de seu nascimento. Era constituído de seis caixas de
papelão e uns quinze livros. Inicialmente foi um Herbário ambulante.
Recém-ordenado, leva-o para Turvo. Em Sombrio, a Casa Paroquial é muito
pequena: guarda-o num puxado de madeira, em cima da baia dos cavalos. Em 1946
transporta-o para Itajaí: já possui 1.500 plantas herborizadas. Dali não sairá
mais. Em 1953, com a doação do terreno, constrói a sede do Herbário: ampla,
confortável, na Avenida Marcos Konder”
(informações do Pe. Artulino Besen).
Foi diretor do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro durante o período de 1971 a 1975. Em 1976 é chamado para formar as
bases da Fundação de Amparo e Pesquisa Tecnológica do Meio Ambiente (FATMA),
órgão responsável pelo meio ambiente do Estado de Santa Catarina, onde ocupou
até 1979, o cargo de vice-presidente. Permanece ainda como
Superintendente-adjunto de Pesquisa Ambiental da Fundação de Amparo e
Tecnologia até 1983. Durante esse período de trabalho na FATMA, elaborou as
exposições de motivos e os antiprojetos dos parques, reservas e estações
ecológicas de Santa Catarina (Parque Estadual da Serra do Tabuleiro – 90.000ha;
Parque Estadual da Serra Furada – 1.320ha; Reserva Biológica Estadual do
Sassafrás – 5.600ha; Reserva Biológica Estadual do Aguaí – 7.600ha; Reserva
Biológica Estadual da Canela Preta – 1.844ha).
Como
botânico, Pe. Raulino coletou e herborizou 28.769 plantas. Descobriu para a
ciência cerca de 350 espécies novas e descreveu 6 novos gêneros de plantas.
Percorreu mais de 1 milhão de quilômetros em 953 excursões botânicas durante 50
anos.
PRÊMIO GLOBAL 500, DA ONU: reconhecimento pela
defesa do meio ambiente
Recebeu
muitos prêmios homenageando seu trabalho científico, composto por 45 livros e
114 artigos científicos enfocando Botânica, Zoologia e Genealogia. Com seu
companheiro Roberto Miguel Klein, padre Raulino Reitz recebeu o Prêmio Global
500, da Organização das Nações Unidas (ONU), na Cidade do México, em 1990. O
Prêmio Global 500 foi criado em 1987 pela Organização das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (UNEP), reconhecendo e homenageando indivíduos e organizações que
lutam pela defesa do meio ambiente.
O site www.global500.org,
página oficial do Prêmio, justifica a escolho do padre cientista de Antônio
Carlos, afirmando que “por meio século, o Padre Reitz tem trabalhado para a
preservação do meio ambiente no Brasil. Principalmente
graças aos seus esforços, em 1961, foi criado o Parque Botânico em Santa
Catarina, com 750 hectares. (...) Ele iniciou a proteção da fauna ameaçada de extinção que
cobrem 40 espécies de animais. Começando com 51
animais, seu projeto agora ajuda a mais de 1.000 pessoas. Reitz descobriu cinco novos gêneros e 327 novas espécies de
plantas no Brasil e que tem escrito extensivamente sobre botânica e ecologia”.
A DESPEDIDA
Sua morte
inesperada no dia 20 de novembro de 1990 interrompeu seu sonho de em mais 10
anos completar a Flora Ilustrada Catarinense. Faleceu em Itajaí, de ataque
cardíaco. Atualmente seu corpo repousa num túmulo ao lado da Igreja Matriz de
Antônio Carlos.
“Com a morte de Reitz perde a Botânica brasileira
um de seus mais atuantes cultores e de cuja obra cabe dizer, num comentário
final, que foi o organizador da mais abrangente e bem elaborada flora regional
de nosso país no presente século”. (MELLO
FILHO, 1991)
Prof. Altamiro Antônio Kretzer
(Doutor em História
Cultural pela UFSC, atualmente Secretário de Educação e Cultura de Antônio
Carlos)
FONTES:
Padre
Raulino Reitz: patrono da ecologia catarinense. [Online]
Disponível em http://pebesen.wordpress.com/padres-da-igreja-catolica-em-santa-catarina/padre-raulino-reitz/. Arquivo capturado em 09/04/2013.
Raulino
Reitz, padre, botânico e professor. Catalogou setenta espécies de bromélia. Revista Veja, 28 de novembro, 1990 -
Edição n° 1158 - DATAS – p. 83.
Raulino
Reitz.
[Online] Disponível em http://hbriai.webnode.com.br/biografias/raulino-reitz/. Arquivo capturado em 20
de setembro de 2013.
Raulino
Reitz.
[Online] Disponível em http://www.global500.org/index.php/thelaureates/online-directory/item/416-raulino-reitz.
Arquivo capturado em 19 de setembro de 2014.
Recuperados registros astronômicos do Pe. Raulino
Reitz. [Online] Disponível em http://www.geocities.ws/oab/reitz.htm. Arquivo
capturado em
09 07
2013.
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